sábado, 30 de maio de 2009

Dialogos universitários

22h45, sexta.

Ota: O video ficou muito grande, não cabe em um DVD. Aí vai ter que dividir em dois, vai demorar meia hora mais ou menos.
Nós: Tá. Cada um ou os dois?
Ota: Cada um.
Nós: Ah, então ok, faz a primeira parte.
Ota: Vocês viram que hora são? Vocês vão me fazer sair daqui 23h30?
Nós: É.
Ota: Ah, vão se catar...hahaha

Ota: Claudio, olha isso, elas querem que eu saia 23h30 daqui!
Claudio: Foda-se! Hahaha

domingo, 24 de maio de 2009

Reflexões de um sabado

Quando se trabalha e estuda (ressaltando: TCC) a semana toda, tudo que você espera é o seu final de semana de folga- ainda mais eu, que só tenho dois por mês- e nele dormir e se divertir como você não fez durante a semana toda.
Pois bem. Tudo conspirava contra eu sair hoje de casa para assistir um seminário. Contando com os fatos que:
- No final das contas, eu iria sozinha;
- Oras, é um seminario! Pleno sabado...
- O seminário duraria 9 horas;
- Teria politica como um dos temas;
- Teria que acordar umas 7h da manhã.

Todo mundo, durante sua vida mediocre ou excêntrica, já ouviu alguém dizer que devemos listar prós e contras. Então, nada mais justo que listar, também, os prós:
- O seminario seria ministrado por Luis Mauro, que foi um dos meus melhores professores na faculdade;
- Conhecendo o conteúdo das aulas dele, o seminário seria no minimo divertido e cheio de conteúdo;
- É sobre comunicação e, man, I love it;
- É na Casper, onde pretendo estudar minha próxima graduação.
Não foi diferente. Poucas pessoas conseguiriam te deixar acordada, interessada e, porque não, facinada durante longas horas em pleno sabado, num seminário. Terry Eagleton, Thomas Meyes, William James, Irving Goffman, Spivak, Bhabha, Adorno, Van Zoonen...

Em contrapartida...
Só estando sozinha para saber o quanto é legal estar acompanhada. Mas também, só estando sozinha que você começa a reparar mais no mundo externo, para compensar a falta de alguém com quem falar. E o tanto de informação que passa por você em segundos ou minutos é incrivel. Principalmente na Avenida Paulista. É cansativo e nauseante dizer que meu sonho é morar ali, porque já disse isso zilhões de vezes. Mas eu mesma não me canso.
Pelo menos no final do dia tive uma boa carona e, em casa, friends na internet e Friends na TV.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Desistência da Boa Vontade Entre Amigos e Derivados

Inicia-se hoje a campanha de Desistência da Boa Vontade Entre Amigos e Derivados, e não vamos colocar siglas nesse movimento.
Se você acha que em amizades e outros relacionamentos não se apela, e que qualquer bom relacionamento deve contar com a boa vontade de ambos, e não só a sua, junte-se ao time. Se você tem amigos ou outros relacionamentos que estão sendo empurrados com a barriga, você também é bem vindo. Se você também se esforça para achar que tudo tem o dedo do Murphy no meio, mas está cansado de jogar a culpa nele, a casa é sua.
Boa vontade tem limite. 

Join us!

terça-feira, 12 de maio de 2009

A Lei do Atraso

Quando você está atrasada e numa via pública, algumas coisas são fatos (by Murphy):

- Quem está na sua frente estará andando lentamente, e não terá como ultrapassa-la;
- Porque, provavelmete ao tentar isso, terá duas ou mais pessoas de mãos dadas fazendo uma corrente para que você não passe;
- Quem está na sua frente estará no mesmo ritmo que você, mas vai parar bruscamente, fazendo você tropeçar nela ou simplesmente desviar dela, muito irritada;
- Você vai encontrar alguém no caminho, e esse alguém não estará tão atrasado quando você. Justamente por isso, a pessoa vai ao seu lado conversando e, mesmo que você tente, você não vai conseguir faze-la correr. Vai se atrasar.

A arte de evitar e conhecer pessoas

Quando eu falo sobre a arte de evitar pessoas, não pense que sou mais um ser humano mesquinho no meu mundinho fechado. Não. Essa arte consiste em uma técnica a ser aplicada em locais apropriados,  dias que você simplesmente não quer contato com o mundo. E não pense que essa artimanha é usada apenas porque você quer evitar as pessoas- não! Muito pelo contrário: existem dias que nós acordamos como uma bomba atômica. Podemos explodir num simples toque, e para poupar os outros, aplicamos a mui nobre arte de evitar as pessoas.
Uma das melhores técnicas da arte é andar munido de um MP3 (para quem não tem, serve só o fone) e um livro ou revista. Geralmente é um recurso usado em locais públicos com grande concentração de pessoas (lê-se ônibus e metrôs). Como as pessoas não entendem muito bem a respeito de linguagem corporal, você coloca o fone no ouvido e lê tranquilamente durante o percurso. Obviamente vai aparecer uma pessoa que não teme pela própria vida e vai falar com você da mesma forma. Se você notar, e realmente for dificil ignora-la, retire um dos fone de ouvido, com aquela cara que só você sabe fazer e solte um "oi?". Sempre quando isso acontece, você tem uma história para contar. Veja o lado bom da coisa.
Uma vez estava encostada na janela do ônibus, perdida numa música que escutava, quando uma moça boliviana me cutucou. Eu sai da minha bolha e expressei uma interrogação. Ela murmurou alguma coisa e apontou com o dedo uma pichação no banco do ônibus. Estava escrito "puta". Ela me mostrou e riu. Confesso que, depois que passou, eu ri mais do que na hora. Afinal, cada uma riu de uma piada.
A outra vez, um homem me pediu para informar a hora, desculpando-se por ter me feito tirar o fone do ouvido. "Pelo menos você tem isso para se distrair. Pense eu aqui, acostumado ir de carro, é super rápido. Mas hoje vim de ônibus porque...". Eu não posso relatar todo o dialogo- perdão, monólogo- porque durou pelo menos 40min, do percurso do ponto final até a minha casa. Mas, básicamente, sabia tudo sobre ele. Nem precisei de Orkut pra isso. No final das contas, me rendeu uma boa história. Virei um Forrest Gump às avessas- em vez de contar, escuto. Também tem a história do boliviano alemão, que não vale ser contada duas vezes. Ainda assim, um clássico.
Mas a arte de conhecer pessoas também é legal. E nem sempre o álcool está envolvido na história- é pelo simples prazer de ouvir novas histórias e visões sobre o mundo. Se render algo além disso, ótimo. Se não, não tem como ser menos mediocre do que um texto redigido num blog para a tal história. Já conheci pessoas por causa de música, livros, filmes. Por causa de mãos, de nariz e chapéu. Por pegar assunto na metade. Por passar trote. Por carta, só por e-mail ou só por telefone. As relações são complexas e apaixonantes. 
Gosto de contar a respeito das cartas- são divertidas. Já mandei carta para um menino que anunciou numa revista de música que queria se corresponder com pessoas que curtiam o mesmo que ele. Me arrisquei. Recebi uma carta impecável de duas páginas, e retribui no mesmo nível. Como nem todo mundo sabe brincar, um dia ele achou meu telefone pela lista e me ligou. Bebendo escondido, jogando sinuca. Foi o fim da "relação".
Aí entrei numa comunidade de trocar cartas no Orkut e também foi divertido. Eram cartas filosóficas, eu diria. Um dia, não sei bem como, também acabou. 
Por causa de música fiz uma amiga que nunca vi nem ouvi. Trocamos cartas, e-mails e até materiais - vinil, DVD's, blusa, fotos - sem esperar nada necessariamente de volta. Ela na Escócia- eu, aqui. Esse mês mando uma seleção de sons brasileiros pra ela- chuto que essa correspondência "cega" já dura uns 4 anos.
Quando você estuda comunicação, você pega uma certa "doença" de quer contatos, sempre. Networking, como diria os professores de comunicação.
Mas evitar... ah, evitar é inevitável. E então vivo a bipolaridade do relacionamento humano.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

BOZO's DAY


HAPPY BIRTHDAY, BOZO!

BONO's Day

HAPPY BIRTHDAY, DUDE!

Dia das Mães

Mãe é uma coisa incrivel.
É aquela pessoa que mais fala quando você não quer que fale, mas também é a que mais faz falta quando precisamos de uma palavra. É o que chamamos de porto seguro.
É a pessoa que vai mandar você fazer coisas que fará você ficar de cara feia, mas serão as coisas que mais reflitirão na sua vida. Direta ou indiretamente.
É a que vai xingar quando você errar, mas não vai deixar de te amar por isso. É a pessoa que você sabe que faria de tudo por você, e que você se sente seguro de fazer qualquer coisa por ela porque, no final das contas, ela é a razão de você estar aqui.

À todas as mães, e em especial à minha- feliz dia das mães.

sábado, 9 de maio de 2009

A liberdade de ver os outros

Entre inúmeros textos que me fascinam, esse está no topo.
Escrito pelo americano David Foster Wallace, que morreu no final do ano passado, este texto foi publicado na revista piauí. Acho que nenhuma outra revista teria espaço para tal, o que seria uma pena, pois muitos não conheceriam quem ele foi, ou dificilmente teria acesso ao menos à esse texto, já que pouco do que ele escreveu foi traduzido para português.
Pensei em apenas linkar o texto, mas acho válido que ele se espalhe pela rede, e que cresça o resultado (que é pouco) de páginas de busca no Google.

Enjoy.


A liberdade de ver os outros

Dois peixinhos estão nadando juntos e cruzam com um peixe mais velho, nadando em sentido contrário. Ele os cumprimenta e diz:

– Bom dia, meninos. Como está a água?

Os dois peixinhos nadam mais um pouco, até que um deles olha para o outro e pergunta:

– Água? Que diabo é isso?

Não se preocupem, não pretendo me apresentar a vocês como o peixe mais velho e sábio que explica o que é água ao peixe mais novo. Não sou um peixe velho e sábio. O ponto central da história dos peixes é que a realidade mais óbvia, ubíqua e vital costuma ser a mais difícil de ser reconhecida. Enunciada dessa -forma, a frase soa como uma platitude – mas é fato que, nas trincheiras do dia-a-dia da existência adulta, lugares comuns banais podem adquirir uma importância de vida ou morte.

Boa parte das certezas que carrego comigo acabam se revelando totalmente equivocadas e ilusórias. Vou dar como exemplo uma de minhas convicções automáticas: tudo à minha volta respalda a crença profunda de que eu sou o centro absoluto do universo, de que sou a pessoa mais real, mais vital e essencial a viver hoje. Raramente mencionamos esse egocentrismo natural e básico, pois parece socialmente repulsivo, mas no fundo ele é familiar a todos nós. Ele faz parte de nossa configuração padrão, vem impresso em nossos circuitos ao nascermos.

Querem ver? Todas as experiências pelas quais vocês passaram tiveram, sempre, um ponto central absoluto: vocês mesmos. O mundo que se apresenta para ser experimentado está diante de vocês, ou atrás, à esquerda ou à direita, na sua tevê, no seu monitor, ou onde for. Os pensamentos e sentimentos dos outros precisam achar um caminho para serem captados, enquanto o que vocês sentem e pensam é imediato, urgente, real. Não pensem que estou me preparando para fazer um sermão sobre compaixão, desprendimento ou outras “virtudes”. Essa não é uma questão de virtude – trata-se de optar por tentar alterar minha configuração padrão original, impressa nos meus circuitos. Significa optar por me libertar desse egocentrismo profundo e literal que me faz ver e interpretar absolutamente tudo pelas lentes do meu ser.

Num ambiente de excelência acadêmica, cabe a pergunta: quanto do esforço em adequar a nossa configuração padrão exige de sabedoria ou de intelecto? A pergunta é capciosa. O risco maior de uma formação acadêmica – pelo menos no meu caso – é que ela reforça a tendência a intelectualizar demais as questões, a se perder em argumentos abstratos, em vez de simplesmente prestar atenção ao que está ocorrendo bem na minha frente.

Estou certo de que vocês já perceberam o quanto é difícil permanecer alerta e atento, em vez de hipnotizado pelo constante monólogo que travamos em nossas cabeças. Só vinte anos depois da minha formatura vim a entender que o surrado clichê de “ensinar os alunos como pensar” é, na verdade, uma simplificação de uma idéia bem mais profunda e séria. “Aprender a pensar” significa aprender como exercer algum controle sobre como e o que cada um pensa. Significa ter plena consciência do que escolher como alvo de atenção e pensamento. Se vocês não conseguirem fazer esse tipo de escolha na vida adulta, estarão totalmente à deriva.

Lembrem o velho clichê: “A mente é um excelente servo, mas um senhorio terrível.” Como tantos clichês, também esse soa inconvincente e sem graça. Mas ele expressa uma grande e terrível verdade. Não é coincidência que adultos que se suicidam com armas de fogo quase sempre o façam com um tiro na cabeça. Só que, no fundo, a maioria desses suicidas já estava morta muito antes de apertar o gatilho. Acredito que a essência de uma educação na área de humanas, eliminadas todas as bobagens e patacoadas que vêm junto, deveria contemplar o seguinte ensinamento: como percorrer uma confortável, próspera e respeitável vida adulta sem já estar morto, inconsciente, escravizado pela nossa configuração padrão – a de sermos singularmente, completamente, imperialmente sós.

Isso também parece outra hipérbole, mais uma abstração oca. Sejamos concretos então. O fato cru é que vocês, graduandos, ainda não têm a mais vaga idéia do significado real do que seja viver um dia após o outro. Existem grandes nacos da vida adulta sobre os quais ninguém fala em discursos de formatura. Um desses nacos envolve tédio, rotina e frustração mesquinha.

Vou dar um exemplo prosaico imaginando um dia qualquer do futuro. Você acordou de manhã, foi para seu prestigiado emprego, suou a camisa por nove ou dez horas e, ao final do dia, está cansado, estressado, e tudo que deseja é chegar em casa, comer um bom prato de comida, talvez relaxar por umas horas, e depois ir para cama, porque terá de acordar cedo e fazer tudo de novo. Mas aí lembra que não tem comida na geladeira. Você não teve tempo de fazer compras naquela semana, e agora precisa entrar no carro e ir ao supermercado. Nesse final de dia, o trânsito está uma lástima.

Quando você finalmente chega lá, o supermercado está lotado, horrivelmente iluminado com lâmpadas fluorescentes e impregnado de uma música ambiente de matar. É o último lugar do mundo onde você gostaria de estar, mas não dá para entrar e sair rapidinho: é preciso percorrer todos aqueles corredores superiluminados para encontrar o que procura, e manobrar seu carrinho de compras de rodinhas emperradas entre todas aquelas outras pessoas cansadas e apressadas com seus próprios carrinhos de compras. E, claro, há também aqueles idosos que não saem da frente, e as pessoas desnorteadas, e os adolescentes hiperativos que bloqueiam o corredor, e você tem que ranger os dentes, tentar ser educado, e pedir licença para que o deixem passar. Por fim, com todos os suprimentos no carrinho, percebe que, como não há caixas suficientes funcionando, a fila é imensa, o que é absurdo e irritante, mas você não pode descarregar toda a fúria na pobre da caixa que está à beira de um ataque de nervos.

De qualquer modo, você acaba chegando à caixa, paga por sua comida e espera até que o cheque ou o cartão seja autenticado pela máquina, e depois ouve um “boa noite, volte sempre” numa voz que tem o som absoluto da morte. Na volta para casa, o trânsito está lento, pesado etc. e tal.

É num momento corriqueiro e desprezível como esse que emerge a questão fundamental da escolha. O engarrafamento, os corredores lotados e as longas filas no supermercado me dão tempo de pensar. Se eu não tomar uma decisão consciente sobre como pensar a situação, ficarei irritado cada vez que for comprar comida, porque minha configuração padrão me leva a pensar que situações assim dizem respeito a mim, a minha fome, minha fadiga, meu desejo de chegar logo em casa. Parecerá sempre que as outras pessoas não passam de estorvos. E quem são elas, aliás? Quão repulsiva é a maioria, quão bovinas, e inexpressivas e desumanas parecem ser as da fila da caixa, quão enervantes e rudes as que falam alto nos celulares.

Também posso passar o tempo no congestionamento zangado e indignado com todas essas vans, e utilitários e caminhões enormes e estúpidos, bloqueando as pistas, queimando seus imensos tanques de gasolina, egoístas e perdulários. Posso me aborrecer com os adesivos patrióticos ou religiosos, que sempre parecem estar nos automóveis mais potentes, dirigidos pelos motoristas mais feios, desatenciosos e agressivos, que costumam falar no celular enquanto fecham os outros, só para avançar uns 20 metros idiotas no engarrafamento. Ou posso me deter sobre como os filhos dos nossos filhos nos desprezarão por desperdiçarmos todo o combustível do futuro, e provavelmente estragarmos o clima, e quão mal-acostumados e estúpidos e repugnantes todos nós somos, e como tudo isso é simplesmente pavoroso etc. e tal.

Se opto conscientemente por seguir essa linha de pensamento, ótimo, muitos de nós somos assim – só que pensar dessa maneira tende a ser tão automático que sequer precisa ser uma opção. Ela deriva da minha configuração padrão.

Mas existem outras formas de pensar. Posso, por exemplo, me forçar a aceitar a possibilidade de que os outros na fila do supermercado estão tão entediados e frustrados quanto eu, e, no cômputo geral, algumas dessas pessoas provavelmente têm vidas bem mais difíceis, tediosas ou dolorosas do que eu.

Fazer isso é difícil, requer força de vontade e empenho mental. Se vocês forem como eu, alguns dias não conseguirão fazê-lo, ou simplesmente não estarão a fim. Mas, na maioria dos dias, se estiverem atentos o bastante para escolher, poderão preferir olhar melhor para essa mulher gorducha, inexpressiva e estressada que acabou de berrar com a filhinha na fila da caixa. Talvez ela não seja habitualmente assim. Talvez ela tenha passado as três últimas noites em claro, segurando a mão do marido que está morrendo. Ou talvez essa mulher seja a funcionária mal remunerada do Departamento de Trânsito que, ontem mesmo, por meio de um pequeno gesto de bondade burocrática, ajudou algum conhecido seu a resolver um problema insolúvel de documentação.

Claro que nada disso é provável, mas tampouco é impossível. Tudo depende do que vocês queiram levar em conta. Se estiverem automaticamente convictos de conhecerem toda a realidade, vocês, assim como eu, não levarão em conta possibilidades que não sejam inúteis e irritantes. Mas, se vocês aprenderam como pensar, saberão que têm outras opções. Está ao alcance de vocês vivenciarem uma situação “inferno do consumidor” não apenas como significativa, mas como iluminada pela mesma força que acendeu as estrelas.

Relevem o tom aparentemente místico. A única coisa verdadeira, com V maiúsculo, é que vocês precisam decidir conscientemente o que, na vida, tem significado e o que não tem.

Na trincheira do dia-a-dia, não há lugar para o ateísmo. Não existe algo como “não venerar”. Todo mundo venera. A única opção que temos é decidir o que venerar. E o motivo para escolhermos algum tipo de Deus ou ente espiritual para venerar – seja Jesus Cristo, Alá ou Jeová, ou algum conjunto inviolável de princípios éticos – é que todo outro objeto de veneração te engolirá vivo. Quem venerar o dinheiro e extrair dos bens materiais o sentido de sua vida nunca achará que tem o suficiente. Aquele que venerar seu próprio corpo e beleza, e o fato de ser sexy, sempre se sentirá feio – e quando o tempo e a idade começarem a se manifestar, morrerá um milhão de mortes antes de ser efetivamente enterrado.

No fundo, sabemos de tudo isso, que está no coração de mitos, provérbios, clichês, epigramas e parábolas. Ao venerar o poder, você se sentirá fraco e amedrontado, e precisará de ainda mais poder sobre os outros para afastar o medo. Venerando o intelecto, sendo visto como inteligente, acabará se sentindo burro, um farsante na iminência de ser desmascarado. E assim por diante.

O insidioso dessas formas de veneração não está em serem pecaminosas – e sim em serem inconscientes. São o tipo de veneração em direção à qual você vai se acomodando quase que por gravidade, dia após dia. Você se torna mais seletivo em relação ao que quer ver, ao que valorizar, sem ter plena consciência de que está fazendo uma escolha.

O mundo jamais o desencorajará de operar na configuração padrão, porque o mundo dos homens, do dinheiro e do poder segue sua marcha alimentado pelo medo, pelo desprezo e pela veneração que cada um faz de si mesmo. A nossa cultura consegue canalizar essas forças de modo a produzir riqueza, conforto e liberdade pessoal. Ela nos dá a liberdade de sermos senhores de minúsculos reinados individuais, do tamanho de nossas caveiras, onde reinamos sozinhos.

Esse tipo de liberdade tem méritos. Mas existem outros tipos de liberdade. Sobre a liberdade mais preciosa, vocês pouco ouvirão no grande mundo adulto movido a sucesso e exibicionismo. A liberdade verdadeira envolve atenção, consciência, disciplina, esforço e capacidade de efetivamente se importar com os outros – no cotidiano, de forma trivial, talvez medíocre, e certamente pouco excitante. Essa é a liberdade real. A alternativa é a torturante sensação de ter tido e perdido alguma coisa infinita.

Pensem de tudo isso o que quiserem. Mas não descartem o que ouviram como um sermão cheio de certezas. Nada disso envolve moralidade, religião ou dogma. Nem questões grandiosas sobre a vida depois da morte. A verdade com V maiúsculo diz respeito à vida antes da morte. Diz respeito a chegar aos 30 anos, ou talvez aos 50, sem querer dar um tiro na própria cabeça. Diz respeito à consciência – consciência de que o real e o essencial estão escondidos na obviedade ao nosso redor – daquilo que devemos lembrar, repetindo sempre: “Isto é água, isto é água.”
É extremamente difícil lembrar disso, e permanecer consciente e vivo, um dia depois do outro.

CD contador de história

Os hacks e estantes são repletos de porta-retratos com as fotos que contam história. Aqueles que não conhecem a familia vão apontar para saber quem são. Os que já conhecem vão olhar saudosos pelos momentos registrados.
Mas acho que as histórias mais interessantes nas estantes e hacks não são as fotos. São os CDs.
O CD do Zezé di Camargo e Luciano, por exemplo, conta que foi o primeiro a entrar na casa, e lembra que alguém já sofreu pelo cabelo que o Zezé cortou. O do Chiclete com Banana conta que nem sempre vale levar o que se vê em promoção- justamente porque o próprio nem saiu no plastico. E duvido que um dia sairá. Os do Westlife e do Hanson conta que alguém já gritou e suspirou. Os bootlegs contam que já viajaram pela Austrália, EUA, França, até chegar no hack onde chegou. Os do José Augusto e do Roberto Carlos avisam: não dê CD no dia das mães. Afinal, a mãe que é dona do hack só escutou aqueles CDs no dia que os ganhou. As trilhas de novelas ressaltam que eles só duram até uns dois meses depois que a novela acaba- depois viram bibelôs. O do RPM repete o mesmo recado. Os do Bon Jovi e do Raimundos transpiram nostalgia.
Ainda não desisti dos CDs. Os espaços vazios na estante contam que ali, assim como na familia, sempre cabe mais um.

O dia insuportável

O dia insuportável não é aquele que dá errado- é o que dá tudo certo, mas de maneira lenta e dolorosa. É o dia que você divide espaço com uma pessoa insuportável sem que isso seja culpa dela, nem sua. É o dia que você faz tudo o que tem que fazer, mas se sente insatisfeita. Onde se esquece na hora errada e se lembra quando acaba, mas isso acaba não afetando em nada.
É o dia em que as pessoas te irritam sem querer. É o dia que você não quer acreditar que as pessoas fazem as coisas por mal, porque você não faria aquilo. Mas elas fazem. É o dia que você se sente impotente de mudar o que faz, onde está e para onde vai. Um dia inevitavelmente chato e massante, que mesmo fazendo piada dele, continua te incomodando.
Nem batata frita, nem chocolate. Talvez cama, TV e uma espera de que os olhos se fechem involuntariamente, rezando para que amanhã não inveje o hoje.
Porque hoje é o dia insuportável.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Depeche [mode on]

Quando, na minha simplória vida, pensei que veria INXS, REM, U2 ou Duran Duran ao vivo?
E quando, depois de tudo isso acontecer, pensei que Depeche entraria nessa lista?
Pois Julho começa a venda de ingressos para o show em Outubro do Depeche Mode no Brasil. Se a minha vida fosse música, estaria quase alcançando sua plenitude.

Balanço

Treinamento no trabalho, prova da única matéria que não faz parte do TCC na faculdade e 160 ligações em um único dia. De grátis, uma leve cólica. Ter uma folga depois de um dia desse é mesma coisa de tomar banho no calor, sentar quando se está exausto ou comer quando se está com fome. Jogar água em algo prestes a pegar fogo. Tssss!
Um sofá e uma pilha de DVD's é a coisa mais terapeutica que há.
Aí você para e pensa: que bosta. O mundo está girando, e cá estou, agradecendo um dia de folga. Folga na semana! Quem pega folga na semana? Quem trabalha no final de semana! E quem trabalha no final de semana? Ahn, ahn? Publicitários, é claro! Quem faz publicidade se cansa de ouvir, pelo menos nos dois primeiros anos, que publicitários não dormem, não vão ao banheiro, não fazem sexo. Mentira, fazem sim. Mas que seja- publicitários são praticamente sementes de Jack Bauer. Mas pior do que qualquer coisa é ser um aspirante a publicitário e não trabalhar em publicidade. Isso doi. E pior do que o que é pior que qualquer coisa é procurar um emprego e não ter (quase) nenhum dos requisitos.

Os requisitos

Aproveite os louros da faculdade quando você está, no máximo, no terceiro ano. Ninguém te quer quando você está no quarto (sem piadas). Foi assim que eu consegui meu emprego atual, no qual mofo até hoje. Quando você tentar sair do trabalho no qual mofa há alguns anos, verá que ninguém te quer porque você está quase se formando. E aí entra o requisito do segundo tipo de vaga de emprego: pessoas formadas. Ora, se você não está formado, nem tem tempo suficiente para ter um contrato de estágio, você é uma pessoa em cima do muro. Ninguém gosta de pessoas em cima do muro. Você gosta? Problema seu. É por isso que você não é o chefe, mas proletáriado.
Então, digamos que está em um dos dois perfis.
Se você pode ser estagiário, você tem chances, acredite. Mesmo que passará raiva por empresas só escolherem quem já tem experiência, em algumas ocasiões. Sim, o fundamento do estágio é ensinar o que a pessoa está cursando mas, quando falamos desse mundo, estamos na Terra de Ninguém. Ou melhor, estamos na Terra de Alguém. E se você conhece Alguém, você está feito.
Agora, se você é uma pessoa formada, tenha muitos cursos. Fale linguas fluentemente. Tenha uma experiência, mesmo que tenha sido de merda. Não que todas portas se abrirão, mas você terá uma chave que vai abrir uma delas- o problema é achar qual a porta certa.
Uma pessoa formada sem experiência tem que se bater para chegar no nivel da pessoa citada agora há pouco. Ganhar pouco e gastar o que não tem está na lista.
Acho que em menos de um ano, serei dessa classe. Quem sabe escrever sobre a dor e a delicia de procurar, e talvez achar. Ser mais um dos andarilhos da vida.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Hugh Jackman esta no Brasil...

... e desceu em São Paulo só pra fazer vontade.
Tudo bem.
Quando o Kiefer Sutherland esteve aqui, meu mantra era : "Ok, nem é o Hugh Jackman."
Agora na vez do Hugh, meu mantra é: "Ok, nem é o Johnny Depp".
E quando o Johnny vier, se nem um atestado adiantar, vou dizer: "Ok, nem é o Heath Ledger".
Então, me calarei.
O Kiefer quando veio aqui foi para o O'malleys. Minha teoria é: Hugh desceu para ir no O'malleys- viu que estava fechado, resolveu ir direto ao Rio. Fazer o que. Compromissos are compromissos, by the way.
Nos esbarramos na Australia, então.

O Império da Lei de Murphy

Bem me quer, mal me quer.
Quem eu quero, não me quer. Que me quer, eu não quero. Te liga, me liga mas eu nem ligo- ou ligo- torço para que não ligue mais.
Me atraio pelo abstrato, pelo anônimo, por aquele que talvez nem exista, ou está para existir. Ou finjo que exista, mesmo nem sabendo quem realmente é. Quem já existe passa, repassa, até volta, mas não rola.
O Murphy é um ídolo- e sua lei ainda impera.

sábado, 2 de maio de 2009

Diálogos: Coringa e Harvey Dent


O Conringa encarnou o professor de história e conto uma histórinha verdadeira de dar medo.
"Sabe o que eu notei? Ninguém se apavora quando tudo ocorre de acordo com o plano... mesmo que o plano seja horripilante. Se amanhã eu disser à imprensa que um arruaceiro vai levar tiro... ou um caminhão com soldados vai explodir... ninguém entra em pânico porque tudo faz parte do plano. Mas quando eu digo que um prefeitinho qualquer vai morrer, aí todo mundo perde a cabeça!Se você introduz um pouco de anarquia... perturba a ordem vigente... tudo se torna um caos."

A linha vermelha

E Deus fez a linha Verde, e o Diabo a linha Vermelha.
Porque o verde é a grama, e vermelho é o fogo.
Porque todo mundo só tenta se matar na linha Vermelha. Porque o caos, a bagunça, a pancada, é tudo na linha Vermelha. Porque o ponto em comum, o encontro dos desesperados, vulgo Sé, está na linha Vermelha. Se você me disser que a linha Azul também tem Sé, eu te respondo: a Verde não tem. E de brinde, além da Sé, a linha Vermelha também tem o Brás, com sua transferência gratuita para a CPTM.

Hoje, dia de Virada Cultural, fizeram o grande favor de interditar o metrô República, um dos acessos principais ao ponto chave do evento. Fizeram o favor de atrasar a vida de todo mundo.
It's chaos, como diria o velho Joker.
E por falar em Joker...

Os feios adoráveis

Tem coisas que a gente ama ou odeia sem explicação.
Por que todos odiavam o pijama de Stanley Ipkiss? Por que todos olhavam feio para o relógio do Mickey Mouse no pulso de Robert Langdon?
Eu tenho uma blusa de manga 3/4 do Mickey que comprei na C&A. Ela tem as mangas pretas e o resto cinza- a estampa do Mickey, no centro, já tem uma aparencia desgastada desde que eu comprei. Design.
Minha mãe odeia essa blusa. Se você falar pra ela que ela odeia, ela vai negar até o túmulo. Mas ela odeia sim. Uma das provas foi hoje.
Vou ao teatro à noite, e pensei que voltaria para casa para me trocar, o que não vai dar tempo. Liguei para a minha mãe para reportar o infortúnio.
- Nossa Senhora! Logo hoje que você foi com a roupa mais trapo que tem..

Trapo.
Humpf...

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Tentações no deserto

Então, Jesus foi tentado no deserto pelo Diabo, que lhe ofereceu pão naqueles dias dificeis de jejum que pretendia cumprir.

Vamos aplicar agora a história bibilica na vida real, onde os personagens e cenário variam de acordo com as situações, menos Jesus que, no caso, sou eu. Sim, um dia na pele de Jesus.



Situação 1
Jesus: Eu.
Cenário: variados, com destaque a zona Sul, baladas e fim de dia útil.
Pão: Carro.
Diabo: sentado ao lado, balançando as perninhas.


Então o Diabo diz: 1h30 para o shopping Eldorado? Isso é vida? Vai num show que acaba 1h da manhã e não consegue voltar para casa... sua pobre. Você é masoquista ou o quê? Pega metrô em pleno horário de pico, e ainda volta pra casa rindo, dentro de uma lotação lotada (ahn, ahn), que fica 20min parada esperando outros estudantes pobres que gastam seu dinheiro com álcool.
Solução: compre um carro! Não é o Fox o seu sonho de consumo? Vai lá, garota!
Jesus: A manutenção de um carro é muito caro! Vou ter que pagar pelo carro, pela gasolina, pelo seguro. Tô de boa, sai daqui, cão!

Situação 2
Jesus: Eu.
Cenário: shopping.
Pão: Roupas e calçados.
Diabo: pendurado na etiqueta da roupa, com longos cílios, balançando o rabo com a mão circularmente.

Então o diabo diz: Leva tudo, bobinha! Você está cheia de trapos em casa, roupas que não tem nada a ver com você! Se renova!
Solução: Sai do provador e fala aquela frase: "vou levar TODAS!". Parcela em 3.
Jesus: Vou levar uma só. Para com isso!

Situação 3
Jesus: Eu.
Cenário: no quarto, de frente para o computador. Acabo de ver que minhas ferias coincidem com a data que o U2 passa pela Europa- precisamente: pela Escócia. Onde uma das minhas melhores, que nunca conheci, mora.
Diabo: o ponteiro animado do mouse.

Então o Diabo tecla: Clica nessa merda e reserva logo: passagem de ida e volta, ingresso pro show, e escreve pra sua amiga que você está chegando! Você vai gastar esse dinheiro de outra forma e nem vai se lembrar dele. Nem vai ter historias para contar.
Solução: segue esse mantra: "Bono, Europa, Bono, Europa...". O resto você sabe ocmo fazer.
Jesus: Gripe do porco. Crise econômica. Eu sei esperar. Eu sei... eu seiiii buáááááá!


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