domingo, 8 de novembro de 2009

Maquinaria 2009


Isso vai parecer um confissão de diário, mas...
É, é isso mesmo. Só não vou começar com o "querido diário".
Tudo começou há uns meses, quando fiquei sabendo que Faith no More faria show no Brasil. Acabei riscando o show da minha agenda pelos seguintes motivos:
- Ninguém se manifestou em ir;
- Seria na Chácara Jockey, lá na casa do baralho;
- Seria festival.
Justificando ao último motivo: é por causa do festival que o Franz Ferdinand tocou, o Motomix. Foi duro aguentar horas de músicas insuportáveis, me matar pra ver um show depois de estar só o bagaço, lá pelas 3 da manhã.
Então numa quinta à noite, surge Sté no MSN, me chamando para o show. E o universo conspirador dizia: não vá.

- Sexta: madrugada de salsa, aniversário de um amigo.
- Sábado: cinema à tarde, aniversário de uma amiga à noite.
- Domingo: ENADE.

O problema é que eu sabia que me arrependeria por não ir. Me joguei, como sempre. Dormi algumas horas no sábado e disparei para o Jockey às 13h. Pegamos a câmera emprestada da faculdade para fotos porque, segundo a Sté, o esquema era até de backstage. Eu ainda não estava tão crente a respeito, porque já tinha acompanhado jornalistas de credencial na pista comum. O caminjo foi fácil: um trêm para Eusébio, um ônibus e lá estavamos, muito longe da casa, num sol de torrar os miolos.
Nomes checados na entrada e lá estavamos, rumo à área de imprensa. Antes, os crachás: pirei. Pulseira de fotografo, podendo permanecer as três primeiras músicas de frente pro palco. O surrealismo de pensar que eu estaria lá, de cara com o Mike Patton, foi inacreditável.
A sala da imprensa era toda equipada, com notebooks, informações sobre as bandas, set list, acesso às fotos oficiais, além de bebida for free. Parece idiota, mas foi como estar no céu: uma misera garrafinha de água, que Deus fez questão de dar em abundância ao mundo, custava R$5. Cerveja e refrigerante, R$6. E com o calor que estava rolando, ter uma cobertura e bebida não era luxo, era questão de sobrevivência.


Mal chegamos e já chamaram para o show do Sepultura. Fui com os fotografos para a frente do palco e, cara, que sensacional ter um ângulo legal quando você não tem aquele conhecimento técnico ou uma lente hight ultra power. Pirei no Andreas Kisser. O cara toca horrores e ainda sai maravilhosamente bem nas fotos. Tenho uma simpatia pelo vocal também, não sei porque. Ainda assim, não gosto de Sepultura.
De volta à sala de imprensa, descarregamos as fotos no note e twittamos. O pessoal à trabalho ralava muito - um editando as fotos e enviando para publicar, outros escrevendo matéria, atualizando twitter... fantástico. Eu olhava para aquilo e pensava, como na letra de Jesus Jones, "there is no other place i wanna be". Desde a parte do trabalho até os profissionais com quem você acaba convivendo. Depois de quatro anos na faculdade posso afirmar que é na comunicação que eu quero ficar. E não digo isso porque ter credencial de imprensa é só maravilha. De forma alguma. Imagina você indo credenciado, com acesso aos melhores lugares, mas depois das três primeiras músicas ter que sentar na frente de um computador e se concentrar no seu trabalho, seja na parte escrita ou fotográfica? Ouvir o som rolando, talvez até a sua música favorita, e ter um prazo de ontem para entregar um material? Fora que nem sempre serão os shows que você ama, de forma alguma. No mesmo dia de um show maravilhoso você pode estar do outro lado da cidade, cobrindo um show de bosta. Nem tudo é assim tão legal. Mas ali na sala da imprensa me dei conta que, ainda que se lascando, taí uma coisa que eu daria a cara a tapa e encararia. Fiquei até mais facinada com toda a parte do trabalho dos veiculos do que necessariamente o fato de eu ser uma pessoa "vip" no evento.
Voltando a sequência, tivemos Deftones logo após de Sepultura. E taí outra sensação inusitada: ficar cara a cara com uma banda que você não tem idéia de quem seja, e não consegue gostar de uma única música quando escuta. Foi esse o caso. E as fotos, adivinha? Perfeitas.
Fomos curtir o show da pista VIP, enquanto alguns da pista normal xingavam e queria botar fogo na gente. Outro fotografo também foi pra pista, e aí mais uma situação inusidada e adorável, que eu adoraria ter uma câmera: ele pulava, vibrando com o show, e de repente parava, se concentrava e batia a foto para seu trabalho. Taí aquela situação dos dois lados da profissão, claramente.
Próxima banda: Jane's Addiction. Ao contrário do Deftones, foi uma banda que eu só conhecia de nome, peguei os sons na net e adorei. Fora o fato de que estaria cara a cara com Perry Farrel, um icone, e Dave Navarro. À pedido do próprio Perry, os fotografor poderiam permanecer por quatro músicas e voltar na última. E sério, ninguém aquela noite era mais glam, poser e sorridente do que ele. Me dei conta de que estava do lado errado quando tirei os olhos do Perry e vi que Dave Navarro estava do lado oposto do palco. Merda. Tinha um bolo de fotografos na frente dele já. Tentei a sorte. Além da sorte das quatro músicas, e de algumas delas serem longas, um outro fotografo muito fofo por sinal me colocou na frente. Na cara do Dave Navarro.
O que é Dave Navarro?
Foi só um pacto com o demônio ou o cara é o próprio Satanás? Sério, ele é hipnotizante. Fora que ele deu a mão pra gente enquanto o pessoal na pista nos amaldiçoavam pelo resto da vida. Sorte que esse tipo de praga não pega, porque o resto da noite foi perfeita. Só para quebrar o clima de extrema felicidade, assim que Mike Patton ia colocar os pés- ou a bengala- no palco, caiu uma chuva das boas. Os equipamentos e instrumentos foram protegidos e as piadas rolaram para descontrair. Mandaram até São Pedro tomar no cu. Então a chuva se foi, e as cameras disputaram o melhor ângulo de Mike, que entrou no palco de bengala e guarda-chuva, fazendo o povo pirar. Na segunda música, From Out of Nowhere, vi que era bobeira ver Mr. Patton através de uma camera quando eu podia vê-lo a poucos metros de distância. É um surto ouvir essa música de tão perto, e ver Mike e sua trupe naquela distância ridicula. Terceira música e lá fomos nós, relutantes, saindo na frente do palco. Talvez isso tenha sido mais saudável, porque saí de mim quando tocou Ashes to Ashes. Perfeita. Mike falava mais português que muito brasileiro. Além dos palavrões, ainda gritou pelo Palmeiras, ofereceu música pro Zé do Caixão e ainda disse que talvez seja a última vez do Faith no More no Brasil. "Talvez... maybe", ele ressaltou, depois do público soltar um alto suspiro coletivo.
O público não se cansava. Não tinha como. A banda intercalava músicas mais lentas com hits pesados, brincadeiras e palavrões, e ninguém mais queria sair dali. "The last one?", perguntou Patton. A resposta era óbvia: não. "Vamos todos pra casa, ahn? Precisamos descansar, estamos velhos" disse ele, assim mesmo, em português. Mas nem ele próprio fazia questão de nos convencer de que estava cansado. Fazia coreografia com o pessoal, sorria, pulava e cantava em todos os tons até cair se debatendo, como o peixinho agonizante do clipe de Epic.
O melhor estava por vir. No Rio de Janeiro, a banda tocou Falling To Pieces, sendo que não incluiu o som em nenhum set list da turnê. A gente merecia um bis desse, não? Em vez disso, ganhamos Digging the Grave. O mais irônico da situação era que eu e Sté já tinhamos olhado o set list de vários shows dessa turnê, e não tinha essa música. Qual era a nossa chance? Pedi a conta de quantas vezes a própria Sté disse o quão maravilhoso seria Digging the Grave. E mais uma vez eu digo: cuidado com o que você pede, pois pode virar realidade. E virou. Entramos em transe.
Nem os ônibus lotados e o esquema de três ônibus e um taxi, nem o ENADE e nem as poucas horas de sono tiraram esse filme da cabeça.
Bom é que as fotos comprovam que foi de verdade.
Easy like sunday morning...
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