quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Grandes figuras urbanas I

Quase sempre o caminho de volta da faculdade nos últimos semestres variavam de acordo com o horário e de quem iria junto. Dois, três, as vezes até quatro ônibus já foi. E aí, como nunca tem horário certo de sair da faculdade, especialmente à noite, sempre cheguei em horários diversos no ponto do último ônibus que me deixava em casa. Independente do horário, sempre ele estava lá - o tio da cerveja. Com aquela pose de quem ainda investe e se garante, em diversos horários eu o encontrava, e sempre, de lei, com a lata de cerveja na mão. Sol ou chuva. Dez ou onze da noite.
Foi agora, quase dois anos depois, já formada, que fiz o mesmo caminho: fui na faculdade, encontrei uns amigos no bar e voltei, sem marcar horário. Lá estava ele, com a latinha de cerveja esperando o ônibus. Quando entramos ouvi ele conversar com outro cara:
- Calor, hein?
- Poxa, nem fala!
- É, rapaz... tenho que tomar uma dessa antes de chegar em casa, senão... pfff, não dá.

Só porque está calor.
Ahãm.

Premio Nobel

Grandes produtos geniais, de origem duvidosa e funcionalidade improvável são vendidos na queridinha rua 25 de Março. Papa-bolinhas, cortador de pelo, massageador - quem não odeia as massagens "gratuitas" de surpresa enquanto passa no aperto da calçada? - invisible bra e o diabo a quatro. Mas existe um único, infalível, preciso, indispensável...
Esse post é escrito em homenagem ao grande gênio que inventou a raquete elétrica para mosquitos e coleguinhas. O quão grande não é o prazer mórbido de ouvir fritar esses seres infernais que vivem nos torturando com barulhos e picadas o verão todo?

Dieeeeeeee!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Escândalo pra valer

Escrito por Andrea del Fuego para revista Gloss, Set-2010

Outro dia um preso francês matou o companheiro de cela, abriu seu corpo, tirou o pulmão, cortou em cubos e fez acebolado num fogão portátil. Comeu, evidentemente. Entre nós, o caso Bruno dispensa apresentações. Em São Paulo, assaltantes dão tiro nas vítimas para que o policial tenha de socorrê-las e não possa ir atrás do capeta. Nessa trama, fica difícil a atriz Lindsay Lohan chocar o leitor com uma breve estada no xadrez porque dirigia bêbada e nem dá tempo para comemorar a surra que a amante de Sorocaba levou da melhor amiga. O problema do escândalo, notícia inclusa, é que ele é um texto seguido de foto. Batata frita acompanha. Encândalo só revolta, enfurece, move a alma durante a transmissão da notícia. Nossa sensibilidade está embotada, mas não só porque escândalos são muitos e se autoanulam pela abundância. Os olhos ficaram saturados pela apresentação da notícia em capítulos, ao vivo. Os escândalos parecem iguais aos próximos que virão porque a linguagem da TV nos afasta do drama real. Mais: quando o escândalo é seu, caso ele não seja reportado e distribuído em rede, o luto não começa, a vergonha não aflora, as desculpas nãos podem ser pedidas. Isso é um texto, epitáfio é um texto, bula é um texto, julgamento é um texto e sua vida só vale se for um texto. O fato está ameaçado pela palavra. Escândalo para valer é indizível e privado, ferindo a nuca ou o pulso – onde doer mais

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Foi

Voltar é como acordar.
Minha casa, do jeito que eu deixei. Uma mudança aqui, outra ali, nada que não pudesse ter sido mudado num final de semana qualquer. Os cachorros, meu quarto, a rua, as pessoas, todas ali.
Mas eu...
Bom, não dá pra voltar e dizer que você é a mesma, e que as mudanças foram qualquer, como um final de semana numa cidade ali, com uns amigos, uma festa e só. Foi morar com uma familia estranha e vê-la se transformando em sua. Ter amigos de culturas extremamente diferentes, sair e voltar a hora que quiser, fazer compras pra casa, se responsável por exatamente tudo na sua vida. Foi fazer amigos - de dois minutos e para sempre-, amores- todas intensidades e probabilidades-, comer comidas loucas e se perder em trams e ferries. Foi brigar em inglês e ouvir em espanhol. Foi combinar com alemães de sair correndo do restaurante e não pagar a conta. Foi achar irmãs japonesas e namorado australiano. Foi beber ponche e voltar pra casa a pé, descalça, rindo, por mais de meia hora. Foi trabalhar no show do U2, Bon Jovi, liga de rugby, com espiadinha no vestiário dos jogadores. Foi sair de casa duas da manhã para dar uma volta no centro, depois de uma taça de vinho com as amigas. Foi ver uma cidade destruida pela enchente. Foi Opera House, um coala no colo e cangurus ao redor. Foi ir pra uma entevista de emprego de Havaianas. Foi tudo. Foi louco.
Para todos vocês, que viveram isso comigo: see you soon. E como uma mensagem que eu recebi, numa das primeiras despedidas que me fez pensar o quanto essa viagem - também chamada de sonho por uns, intercâmbio por outros - mexe com a gente: "life is long enough to find you wherever you are in this world".

Até breve, em palavras e em solo tupiniquim.

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