quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Ela disse adeus

Um dia ela se cansou. As pessoas mentiam demais- diziam que era para sempre, mas partiam. Diziam que da proxima vez seria, mas todas proximas vezes passavam, e nada se cumpria.
Abriu as portas do seu armário, suspirou profundamente olhando para tudo aquilo. Era muita coisa para ser levada num ato de impulso. Pegou seu primeiro e segundo vestido favorito, algumas roupas intimas, uma blusa grossa (caso esfriasse), um par de meias (já calçava um), calças e blusas, e foi enfiando em sua mochila cor-de-rosa como se fechasse a vácuo. Arrastou a mochila para o banheiro e enfiou alguns pedaços de papel higienico, seu shampoo pela metade, tal como um frasco de perfume, que abriu e jogou um pouco pelo proprio corpo antes de jogar na bagagem. Suspirou de novo- aquilo cansava. Seria árdua a tarefa de deixar tudo aquilo para trás. Mas ali, pelo menos, estava tudo que ao menos em uma boa quantidade de malas, poderia levar. Mas e o resto? Os amigos, a familia- a parte que não a magoou- como ela levaria? Correu para a sala. Na ponta dos pés, pegou dois porta-retratos e arrancou as fotos de dentro. Alguém se zangaria com aquilo. Mas, quando visse que sua falta era maior que a bagunça que tinha feito, ninguém a puniria. Enfiou as fotos na bolsa, só que com mais cuidado do que teve com suas roupas. Pegou maçãs, alguns pacotes de biscoito, e montou um jantar num pote plástico, assim como vira sua mãe fazer. Isso também foi para a bolsa.
Ao chegar na porta e girar a maçaneta, se deu conta que as fotos não eram suficiente. Podia levar tudo: a mais profunda lembrança, todas as fotos da casa, mas nenhuma das pessoas. Se deu conta que poderia comprar tudo que tinha na mochila com o dinheiro que sabia que estava guardado num pote, no alto do armário- mas não podia fazer com que ninguém que a fizesse rir fosse junto, para entrete-la quando estivesse entediada. Ou coloca-la para dormir. Ou ensina-la algo a mais que ainda não conhecia.
Deu o último suspiro profundo, e decidiu que não precisava ir tão longe, e que realmente nada podia ser para sempre. Largou a mochila proxima a porta e saiu correndo para ser quarto. Pegou dois lençois grandes e coloridos e foi para a cozinha. Arrastou duas cadeiras para o fundo da casa, que tinha uma lavanderia semi-coberta, forrou um lençol no chão e o outro jogou por cima da cadeira, deixando um pequeno espaço para sair. Correu para a porta, buscou sua mochila e se instalou no que chamou de lar. Se sentia segura ali, no seu abrigo, o qual chamou de lar. E que ninguém ousasse incomoda-la, pois ela estava fora de casa, e nada provaria a ela o contrário. Mas ela sabia- sabia que se a chuva chegasse, estaria a um passo do seu abrigo concreto, que jamais caberia dentro de sua pequena mochila cor-de-rosa.
Web Analytics