terça-feira, 12 de maio de 2009

A arte de evitar e conhecer pessoas

Quando eu falo sobre a arte de evitar pessoas, não pense que sou mais um ser humano mesquinho no meu mundinho fechado. Não. Essa arte consiste em uma técnica a ser aplicada em locais apropriados,  dias que você simplesmente não quer contato com o mundo. E não pense que essa artimanha é usada apenas porque você quer evitar as pessoas- não! Muito pelo contrário: existem dias que nós acordamos como uma bomba atômica. Podemos explodir num simples toque, e para poupar os outros, aplicamos a mui nobre arte de evitar as pessoas.
Uma das melhores técnicas da arte é andar munido de um MP3 (para quem não tem, serve só o fone) e um livro ou revista. Geralmente é um recurso usado em locais públicos com grande concentração de pessoas (lê-se ônibus e metrôs). Como as pessoas não entendem muito bem a respeito de linguagem corporal, você coloca o fone no ouvido e lê tranquilamente durante o percurso. Obviamente vai aparecer uma pessoa que não teme pela própria vida e vai falar com você da mesma forma. Se você notar, e realmente for dificil ignora-la, retire um dos fone de ouvido, com aquela cara que só você sabe fazer e solte um "oi?". Sempre quando isso acontece, você tem uma história para contar. Veja o lado bom da coisa.
Uma vez estava encostada na janela do ônibus, perdida numa música que escutava, quando uma moça boliviana me cutucou. Eu sai da minha bolha e expressei uma interrogação. Ela murmurou alguma coisa e apontou com o dedo uma pichação no banco do ônibus. Estava escrito "puta". Ela me mostrou e riu. Confesso que, depois que passou, eu ri mais do que na hora. Afinal, cada uma riu de uma piada.
A outra vez, um homem me pediu para informar a hora, desculpando-se por ter me feito tirar o fone do ouvido. "Pelo menos você tem isso para se distrair. Pense eu aqui, acostumado ir de carro, é super rápido. Mas hoje vim de ônibus porque...". Eu não posso relatar todo o dialogo- perdão, monólogo- porque durou pelo menos 40min, do percurso do ponto final até a minha casa. Mas, básicamente, sabia tudo sobre ele. Nem precisei de Orkut pra isso. No final das contas, me rendeu uma boa história. Virei um Forrest Gump às avessas- em vez de contar, escuto. Também tem a história do boliviano alemão, que não vale ser contada duas vezes. Ainda assim, um clássico.
Mas a arte de conhecer pessoas também é legal. E nem sempre o álcool está envolvido na história- é pelo simples prazer de ouvir novas histórias e visões sobre o mundo. Se render algo além disso, ótimo. Se não, não tem como ser menos mediocre do que um texto redigido num blog para a tal história. Já conheci pessoas por causa de música, livros, filmes. Por causa de mãos, de nariz e chapéu. Por pegar assunto na metade. Por passar trote. Por carta, só por e-mail ou só por telefone. As relações são complexas e apaixonantes. 
Gosto de contar a respeito das cartas- são divertidas. Já mandei carta para um menino que anunciou numa revista de música que queria se corresponder com pessoas que curtiam o mesmo que ele. Me arrisquei. Recebi uma carta impecável de duas páginas, e retribui no mesmo nível. Como nem todo mundo sabe brincar, um dia ele achou meu telefone pela lista e me ligou. Bebendo escondido, jogando sinuca. Foi o fim da "relação".
Aí entrei numa comunidade de trocar cartas no Orkut e também foi divertido. Eram cartas filosóficas, eu diria. Um dia, não sei bem como, também acabou. 
Por causa de música fiz uma amiga que nunca vi nem ouvi. Trocamos cartas, e-mails e até materiais - vinil, DVD's, blusa, fotos - sem esperar nada necessariamente de volta. Ela na Escócia- eu, aqui. Esse mês mando uma seleção de sons brasileiros pra ela- chuto que essa correspondência "cega" já dura uns 4 anos.
Quando você estuda comunicação, você pega uma certa "doença" de quer contatos, sempre. Networking, como diria os professores de comunicação.
Mas evitar... ah, evitar é inevitável. E então vivo a bipolaridade do relacionamento humano.

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