sexta-feira, 3 de julho de 2009

Parabolas reais (#forasarney)

Era um vez um grupo de alunos insatisfeitos com sua diretora. Alguns deles montaram uma chapa para grêmio na escola e ganharam. Foi assim que eles descobriram os podres da diretoria, desde a falsa moral já exposta até trambiques que envolviam dinheiro e materiais enviados pelo governo à escola que não eram utilizados, e os alunos mal sabiam ou se interessavam.
Esses alunos começaram a se revoltar e contaminar aqueles que eram mais próximos, que consequentemente foi espalhando para outros como um telefone sem fio.
Tal como um telefone sem fio que se preze, algumas pessoas que ouviu a história xingava a diretoria sem nenhum argumento plausivel- simplesmente pelo prazer de xingar o sistema que, pela cultura que vivemos, é sempre o culpado.
Todos meios possiveis foram acionados- desde conversar direto com a própria diretora, que vivia "ocupada" e não se disponibilizava, chegando até a Secretaria da Educação, e nada. Os alunos então resolveram fazer uma manifestação para mostrar que não era só aquela meia duzia que estava preocupada. Para mostrar que todos juntos podiam aquilo e muito mais pelos seus direitos que estavam sendo negligenciado.
No dia da manifestação, a expectativa era grande. A diretoria e alguns subordinados ficaram ligeiramente preocupados, vendo alguns objetos estranhos aqui e ali. No intervalo, os alunos se espalharam com suas panelas, cornetas, artigos de festa de aniversários com direito a um "parabéns pra você" no meio do pátio. Uma grande maioria omissa se aglomerou para observar aqueles que deram a cara a tapa, e que escutaram gritos da diretora que mandavam todos para a sala, para "parar com a palhaçada". O sinal soou, mas os alunos não se retiraram- somente uma parte dos omissos, que temiam o pior (que pior?). Queria mostrar-se resistentes às ordens dela, que já tinha perdido a moral com eles. Eles sabiam seus motivos de estarem ali- mas tinha gente que não. Foi aí que, no momento em que os alunos decidiram voltar para a sala já que o aviso estava dado, alguém quebrou o hidrante no andar de cima da escola. A água escorreu escada abaixo, e todos perderam a razão. Após o ocorrido os alunos entraram nas suas salas e esperaram a diretora, que passou de sala em sala.
Ela olhou com superioridade, e falou o quanto inconsequente todos eram. Sobre o prejuizo que causaram à escola e qual exemplo passamos aos outros e nossos pais. Comparou todos alunos- ou melhor, disse que eram todos piores do que os detentos, que matavam uns aos outros. Contou que, nessa brincadeira, além do hidrante quebrado, dois alunos haviam se acidentado por causa da manifestação, e que ninguém empurraria a cadeira de rodas caso um deles ficasse paralitico. Grande parte, obviamente, ficou em choque. Os mais astutos, com o passar de poucos dias, foram atrás dos tais alunos injuriados, e ela negou passar informações. Ora, se ninguém empurraria a cadeira de rodas, que tal bancar o prejuizo dele? Não. Ela negou endereço de hospital e até nome do aluno. Disse que os pais pediram sigilo.
Após esse episódio, a diretora virou piadas para muitos. O processo contra ela ainda durou um bom tempo, e houve algumas melhorias na escola, apesar de alguns alunos ainda nunca terem visto a cara dela- apenas sua vice, que responde por tudo.
Essa história bem resumida, com pouquissimo dos detalhes sórdidos e reais, aconteceu na minha escola, no ano de 2005, e eu participei dela.
Resolvi escreve-la depois de ler sobre o #forasarney e o post do Tico Santa Cruz no blog dele.
O intuito que eu vi em alastrar a tag era que, pela popularidade, as pessoas soubessem do cenario politico brasileiro e se interessassem mais sobre o que acontece no país que, a propósito, é de todos nós. Para que as pessoas tivessem mais interesse no que é seu e, consequentemente, passar isso a frente, para seus amigos. Para que cada vez menos o povo seja omisso àquilo que é feito com seu próprio patrimonio. Acima de tudo, a conscientização é a arma para qualquer coisa. Quanto mais informação, menos o risco de você ser enganado- a não ser que você próprio queira e se submeta a isso, não?
Na história entrou o @twpirata, formado por alguns famosos como Marcos Mion, Junior Lima e Bruno Gagliasso. Na noite que os "piratas" ficaram online, a tag virou febre, chegando a uma das tags mais postadas no mundo pelo Twitter. Na mesma hora, alguém teve a idéia de manifestar isso nas ruas, já que o assunto estava se esticando e acabou sendo conotado como "revolução no sofá"- ou seja, ficou parecendo que as pessoas queriam tirar o Sarney do Senado postando compulsivamente uma palavra na internet. Sério, se alguém pensou que isso aconteceria, eu tenho a mais profunda pena. E aos que pensou que esse era o intuito, me deixa triste, porque significa que os brasileiros perderam a fé em si próprio. Se julgam burros.
Para dar mais ênfase à tese de que as pessoas queriam a "revolução no sofá", os "piratas" fizeram a mesma coisa que os alunos da minha escola, os que abriram o hidrante. Inventaram de pedir ajuda à Ashton Kutcher, só pelo deslumbre do cara ser o mais popular na rede Twitter. Pensaram que, se ele twitasse a palavra e pedisse para as pessoas espalharem, conseguiriamos o primeiro lugar. Quem, no lugar do Ashton, faria isso? Se meter com briga politica que não conhece e ser repercursão no dia seguinte por causa disso? Ele tirou o corpo fora e deixou claro: o país é de vocês, e só vocês tem o poder de derrubar um senador. E temos. Mas será que quem pediu ajuda para o Ashton pensou no que viria depois do Twitter, mesmo que ele repetisse a tag? O Sarney tremeria de medo porque 1 trilhão de pessoas escreveram que querem ele fora? É incoerente. Ainda se pensaram que isso seria bom para ganhar espaço na mídia - ou melhor, TV- para que todos soubessem o quanto insatisfeito nós estavamos, saibam que a TV, assim como o senado, também joga com interesses próprios. Não sei se grande parte de quem postou a tag sabia que teria que ter um "pós-revolução twitteira".
Nós não estamos no Irã, onde a população é reprimida e onde não existe liberdade de expressão. Muito pelo contrário: a liberdade de expressão chegou a um ponto tão banalisado que as pessoas não ligam mais para o espaço que possuem para se expressar. Elas simplesmente passam por cima- ou pior, utilizam isso para disseminar coisas inúteis. Se o amor próprio do brasileiro fosse tão grande quanto o pelo futebol, ou só uma fração da importancia que ele dá à isso, não estariamos sendo passado para trás tão consciêntemente, sem fazer nada.
Se existem redes tão populares assim na internet, com o Twitter, o Orkut e muitos outros, seria para colocar as coisas pra frente, e não regredir.
Eu não duvido da boa vontade das pessoas- aliás, tento sempre que possivel acreditar no melhor lado delas.
Vivemos num cenário onde as pessoas desistem antes mesmo de tentar. Contra-atacam com desculpas para justificar a sua própria preguiça.
Eles esão fazendo isso por mídia? Danem-se! Defenda a causa, e não quem a conduz.
Incomodados se um Zé famoso deu R$1 milhão para uma obra de caridade para se aparecer? Bom, que ótimo que seja isso que ele usa para se aparecer. Como eu disse, defenda a causa. Que seus atos sejam seus, indepente dos motivos alheios.
Concordo quando o Danilo Gentili disse que a mudança é educarmos nossos filhos e, porque não, também influenciarmos quem nós conhecemos. E então, quem sabe, podemos desenvolver uma sociedade mais consciênte. Mas enquanto pudermos manifestar nossa insatisfação, que isso seja feito- quem cala consente, não?
Web Analytics