domingo, 5 de junho de 2011

O nerd

Ele era timido. Ou melhor, reservado.
Quando eu era pequena, todas as brincadeiras eram criadas por ele: meu irmão. Brincavamos de banco e ele era o banqueiro, o dono dos imóveis, dos ônibus, da cidade toda. Servia até serviço de teletransporte, mas era mais caro. Todo nosso dinheiro eram bilhetes da loteria, e nós tinhamos nossa própria moeda de circulação. Quando mais novo, mais da perifa - ou seja, eu e minha prima, as nascidas em 87. Meu irmão, de 78, comandava. Mas tinha mais: brincávamos de Detetive sem comprar o brinquedo, meu irmão fazia tudo. As cartas, a estratégia. Quase fez um War pra gente brincar, porque achávamos caro comprar o jogo. Ele criou personagens, HQs, fazia joguinhos de labirinto desafiando que a gente passasse com o lápis entre as estreitas linhas sem toca-las. Era uma mega estrutura. Me ajudava em qualquer matéria - química, biologia, fiolosofia, fisica. Tentou me ensinar xadrez, mas fui um fiasco. Dificilmente ganhei dele em algum jogo. Se fosse de pergunta e resposta, pior ainda.
Ele era daqueles que passava o dia no Centro Cultural, com a cabeça enfiada nos livros. Hoje não faz mais isso no Centro Cultural, mas a cabeça é a mesma e os livros piores em dificuldade. Sabe muito pouco sobre redes sociais, memes e absolutamente nada de Star Wars.
Esse é meu irmão. Esse é um dos caras que eu mais admiro na minha vida. Esse é o verdadeiro nerd.

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