terça-feira, 1 de junho de 2010

Conversando só, ouvindo só.

Eu não converso com loucos, sequelados ou bebâdos, mas gosto de ouvi-los. Sinceramente até tenho vontade de sentar com eles e realmente iniciar uma longa conversa, gravar histórias, fazer um documentário (!), um curta (!!), um longa (!!!), ou um simples post pra blog (.)
Foi o que aconteceu quando entrei num ônibus à caminho do metrô.
Um senhor estava sentado num banco para um, falando sozinho. Pelo menos é o que a gente achava. Fui mais para o fundo e sentei num banco para dois. Mais duas pessoas a frente estavam assim, com um banco vago ao lado, mas ele decidiu levantar, olhar para cada banco e escolher a minha companhia. Aí notei que, na percepção dele, ele realmente não estava falando sozinho em momento algum. Talvez até tenha migrado do banco solitário para dar sentido à seu monólogo. Começou a resmungar e notou meu anel. Um parênteses: tenho um anel razoavelmente (bem) grande, com uma flor de metal. Ele esticou sua mão abaixo da minha visão e mostrou que ele também usava um anel, muito mais modesto que o meu. "Sabe onde fica o Parque São Jorge?", me perguntou. Pensei que queria saber onde era. Neguei com a cabeça, e ele continuou "é logo alí, ó, mais lá pra baixo, viu?". Parecia até pegadinha do Ivo Landa, que pedia orientação mas sabia onde o lugar ficava. "Ali eu sofri um acidente. Bati meu carro. Fui há uns cinco anos - tinha um carro assim, ponta de linha, última geração. Bati no poste meu Fusca e tive um... traumatismo carn... cra-ni-a-no, que eles falam, né?". Não sei qual pergunta me veio a cabeça primeiro: se o carro era de última geração ou era um Fusca, ou se ele tinha ficado assim após a batida. "Tá vendo ali? CELSO GARCIA!", ele disse quando o ônibus parou no farol para atravessar a avenida. Bateu o pé como se tivesse ordenando, e o farol abriu. Como Corina (Whoopi Goldberg), que ensinou a menininha a soprar o farol para ele abrir - olhou para mim e piscou. Um sábio. Me disse que sempre está indo de lá para cá, daqui para lá e consegue uns trocados. Enfiou a mão no bolso e me mostrou duas moedas de cinquenta centavos, e outra de um real. Quando o ônibus estava fazendo baliza, ordenou que o motorista parasse o ônibus. E ele parou. Desceu desajeitado e acelerou os passos. Imortalizou-se aqui.
Web Analytics