quinta-feira, 18 de junho de 2009

#iranelection



Então minha mãe me falou esses dias que a "internet tem seu lado bom". Ela disse que assistiu uma matéria sobre um rapaz e uma moça que se conheceram pela internet e se casaram esses dias. Compraram uma casa, fizeram uma festa de casamento e tudo mais- provavelmente isso foi noticiado em um desses programas legais que temos toda tarde na TV aberta.
Com uma frequência bem maior, a internet está mais para pedofilia, pornografia e crimes, assim como água está para dengue. Assim como qualquer meio de comunicação, a internet tem suas falhas; mas como nenhum outro meio, ela é a mais interativa e abrangente do que qualquer outra. Ela é o boom. Resta às pessoas- aquelas que fazem a internet funcionar e sobreviver - se ela será uma ferramenta útil ou um verdadeiro vaso sanitário.
Mesmo rendidos de modo dependente à internet, acredito que boa parte das pessoas já não a achem tão fascinante quanto ela realmente é. Foi essa internet que suportou a campanha eleitoral avassaladora de Barack Obama. É essa internet que faz a TV Al Jazeera ter uma massante audiência americana. A internet movimenta milhões em dinheiro e pessoas. Que quebra barreiras e fornece espaço para tudo, independete de opinião, sexo, raça, crenças ou qualquer coisa que, em outros lugares, não teria o mesmo tratamento. Mais uma vez, a internet se supera- e, do outro lado do mundo, alguém começa uma revolução por ela.




Também sou de Teerã

Quando o assunto é poitica- e deixo claro aqui que pouco entendo, me interesso ou mesmo com muito esforço consigo ler a respeito- sabe-se que nunca há plena satisfação. No Brasil, pela corrupção. No Irã, o assunto é mais grave. Mexe com a liberdade de expressão e a liberdade de ir e vir. O livre arbitrio que a gente aprendeu que Deus garantiu aos humanos.
São jovens proibidos de fazer festas, dançar na rua e as mulheres não podem estar fora de casa após as 21 horas- sendo que 70% da população é composta por jovens menores de 30 anos. E vejam só: o Irã é o terceiro país com o maior número de blogueiros. Então, como acontece de um presidente ultraconservador ser reeleito num país desse?
A revolta começou quando Mahmoud Ahmadinejad ganhou as eleições com mais de 60% dos votos. Detalhe: com uma contagem de votos que duraria mais de 24 horas, ao contrário do que aconteceu. E os detalhes não param aí: com quatro candidatos, o número do atual presidente era 44, e do seu oponente, Moussavi, era 4. Colocar um número na frente do voto para Moussavi elegeria facilmente aquele que o povo luta contra. Mas claro- esse são apenas pequenos indicios entre muitos outros da notória fraude. Alguém disse que haverá recontagem de votos- após esses detalhes, será que isso realmente seria válido?
O povo foi às ruas protestar, levantando faixas de protesto com os dizeres: "Ahmadinejad is NOT my PRESIDENT". Os iranianos se mobilizaram pelo Twitter, Facebook e Flickr, enviando fotos e videos feitos por seus celulares, reunindo milhares (1 milhão, segundo o britânico Guradian) de pessoas nas ruas de Teerã. Resultado: alojamentos de universitários foram invadidos, milhares de pessoas foram presas e espancadas nas ruas, com sete mortes divulgadas oficialmente. Os jornalistas foram proibidos de sairem de suas redações e fazerem qualquer foto ou relato do que está ocorrendo. Diante tanta repressão, o governo não consegue conter as fotos, videos e relatos que, mesmo aos poucos e numa frestra tão estreita, vazam para o mundo.
No Twitter, eles ganharam o topo da coluna das palavras mais postadas, com a tag #iranelection. Pessoas do mundo acompanharam o alarde feito pelos jovens iranianos e também utilizaram a tag para espalhar ainda mais o protesto. São mais de 150 twittadas com tag por minuto. O governo tentou filtrar, proibir e diminuir a banda larga e até a transmissão de mensagens SMS, mas através de proxy e outras brechas, os manifestantes continuam fazendo barulho.
Uma onde verde se alastrou pelo mundo. Os jogadores do Irã entraram com uma tira verde amarrada no braço. Os usuarios do Twitter deixaram suas fotos verdes e mudam sua nacionalidade, no mesmo sinal. Os iranianos querem mudar- e o mundo está com eles.




Um conto iraniano

Falta pouco para saber quem é o novo presidente. Nas ruas, o jovens festejam aquilo que pode ser a reforma dos padrões em que vivem. Sonham com a liberdade, em diversos sentidos. A policia está chegando- lutar, escapar e voltar. Dançar como se ninguém estivesse olhando. "Não se esqueça de tirar minha foto na rua". Por que? "Por é a primeira vez nos meus 34 anos de vida que dançei na rua".

Completo aqui, por Carlos Cazalis:
http://www.picturapixel.com/?p=8636

Fotos: .faramarz via FLICKR / AFP/
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