quarta-feira, 5 de maio de 2010

Quartas


As ruas perto de casa estavam como aquela sensação auditiva de ver uma montanha-russa dando uma volta cheia de gente num parque. Num segundo, tudo silêncio - aí vem aquela maré de gritos e, subtamente, silêncio de novo. Tudo bem, essa parte da maré de gritos, no caso de hoje e de qualquer outro dia que tenha uma partida de futebol é bem maior. É a união e a fidelidade entre os que torcem para o mesmo time, que se tornam companheiros dividindo um rádio dentro de um ônibus ou passa de carro pelo outro soltando buzina e palavrões com muita, muita empolgação. Deixa eu ser moralista e dizer que o povo devia ser unido assim para outras coisas. Deixa?
Ou melhor - não vou ser moralista. Serei solidária. Se por um lado o time que perdeu sofre, são os cães que sofrem ainda mais. A cada barulho de fogos, meu cachorro tenta uma maneira de entrar em casa. Tenta a janela da cozinha, onde sempre olha pidão por uma lasca de carne. Tenta pela porta da sala, que já está totalmente arranhada e envergada, mas ainda que tarde tem uma proteção de madeira para evitar futuros arrombamentos caninos. Agora tenta aqui na minha janela, altos pulos que em qualquer outro dia eu desconfiaria que não daria em nada, mas hoje aposto minhas fichas que ele cairia bem aqui no meu colo.
Eu fico mais ou menos assim com a seleção de vôlei masculino jogando... não, não como o meu cachorro, mas como a torcida que falei logo mais no começo. E meu cachorro fica mais calmo, com certeza, mesmo que eu pule do sofá e grite. Desconfio até que ele fica feliz, as vezes um pouco entediado, me olhando de canto. Mas bem mais feliz que uma partida de futebol.
Portanto, defendo meu cachorro e todos seus parceiros num dia desses. E vou dar isso como motivo para eu não gostar de dias assim*.

* com excessão dos dias que estou no bar com os amigos, aí um doido grita "chuuuupa", e a gente grita junto e até faz amigo fingindo torcida pelo gol ou indignação pela injustiça do juiz. Isso é futebol de classe.
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