Borboletas são sempre fontes de inspiração- são lindas, amaveis, fofas, coloridas. Até o momento que simplesmente não são mais.
Eu, assim como a maioria dos seres humanos, venerava a borboleta. Mas então, um dia eu descobri que ela não era simplesmente asas coloridas em toda sua plenitude: elas também tinha um corpo. Gordo e cheios de pernas, aliás. Eu sonhava que elas eram asas, todas confeccionadas manualmente quando estavam cada uma em seu casulo. De quer era as mãos que pintavam as asas? As delas, ué. Mas o corpo, dono dessas mãos, eram somente uma linha. Assim como aquela que fazemos no papel quando as desenhamos, para dar suporte as asas.
Ah, mas além das asas e do corpo, elas também tinham antenas, cada qual com um olho nas pontas. Afinal, como enxergariam? E as borboletas, como inspiração, eram imortais. Batiam asas nos nossos jardins, na nossa cabeça e no céu, até um dia uma chuva forte bater forte e borrar sua pintura. Assim, perderiam suas forças, e as asas derreteriam- e assim, seria o fim das borboletas.
Mas a vida é cruel, mais que essa chuva que matavam as minhas borboletas.
Então, ligando a TV no Discovery, descobri que a borboleta tem um corpo gordo. E que seus olhos são expressivamente grandes, como os de uma mosca. Eu nunca gostei de moscas- logo, como amava borboletas? Por que elas não pousavam em cocôs? Ou só porque a mosca tem asas menos exuberntes merecia desprezo? Filosófico isso, não? Perdão, não era meu intuito.
Fato é que as coisas, quando se mostram reais, nua e crua, assusta.
Imagine só que eu tinha medo de um dragão verde, cheio de patinhas, que foi feito com o propósito de destrair e animar crianças- como eu. Eu tinha menos de 5 anos, e quando meus irmãos não me queriam por perto, era só colocar o (meu próprio) dragão no meio do caminho e eu não passava. Um dia encostei nele e vi que era borracha. Depois vi que, quando eu apertava, ele fazia barulhinho porque tinha um pino no corpo, como um apito. Então a tatica do dragão não funciava mais comigo. Tinha que ser na porrada mesmo.
Outro dia, a TV também destruiu minha imaginação, quando anunciou que Valentino Guzzo estava morto, e que nunca mais eu assistiria Vovó Mafalda. Como? Será que a Vovó Mafalda era um boneco ventríloquo, comandada por esse tal de Valentino? Não. Vovó era um travesti.
Deve ter sido na mesma época que eu toquei o dragão, e descobri o corpo da borboleta.
As vezes ainda quero acreditar em suas asas. Só nas asas.